sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

4 tiros

O primeiro

Depois de três quilômetros de aquecimento e uma breve alongada, lá fui eu pros derradeiros 100 metros.
Acompanhei com os olhos o trajeto a ser percorrido. Parece perto, pensei.
Estiquei os braços, dobrei as pernas, enchi o pulmão de ar e parti. Corri como há anos não corria. Depois de tanto tempo de sedentarismo físico, mental e de preguiça de existir, fugi.
As pernas meio tortas, desajeitadas, desacostumadas, foram aos poucos se reencontrando com o resto do corpo. Cheguei. 18 segundos. Faltava ar.

O segundo

Olhei a pista. Já tinha consciência das dificuldades. A distância era concreta agora.
Dois minutos entre um tiro e outro. Tempo pra pensar - preparação mental mais do que física - e correr.
Correr e correr rápido.
Aos 50 metros as pernas dão uma bambeada. A velocidade diminui um pouco mas o pulmão ainda aguenta. 15 segundos.

O terceiro

Dois minutos de descanso é tempo suficiente pra saber que 100 metros é uma eternidade.
E na confusão de metros e eternidade, tempo e espaço, corro, meio sem pensar mais. Corro por correr, pra chegar lá. E chego. 16 segundos.

O último do dia

É fato. Não vou bater os 15 segundos. Meu corpo já não aguenta. Nem olho mais para o fim da pista. Vejo o agora, o chão debaixo do meu pé.
A coxa esquerda dói. Tenho que correr. É difícil, a coordenação motora falha. Os passos são tortos, o ar não vem. Só procuro a faixa branca no chão.
Ela tarda, mas não falha. 17 segundos.

O difícil é aceitar que, no auge da minha velocidade, no pico do meu desempenho, no meu melhor, Usain Bolt poderia me dar 6 segundos de vantagem e ainda me ultrapassar como um raio.

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